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Sistemas Semiautônomos e a Falsa Sensação de Segurança

O sistema semiautônomo em carros refere-se a um conjunto de tecnologias que permite ao veículo realizar algumas funções de direção de forma autônoma, como acelerar, frear e manter-se na faixa, mas ainda exige a supervisão e, em momentos críticos, a intervenção do motorista. Tecnologias como o controle de cruzeiro adaptativo (ACC) e o assistente de centralização de faixa (LKA) estão cada vez mais populares nos veículos modernos, oferecendo conveniência e suporte em longas viagens ou em situações de tráfego intenso.

O Perigo da Confiança Excessiva em Tecnologias Semiautônomas

Motoristas frequentemente subestimam os limites dos sistemas semiautônomos, criando um falso senso de segurança que pode resultar em distrações perigosas.

Um estudo recente conduzido pelo Insurance Institute for Highway Safety (IIHS) e pelo Highway Loss Data Institute (HLDI) levanta preocupações sobre a real eficácia dessas tecnologias em aumentar a segurança nas estradas. Embora promovam conveniência, essas ferramentas podem criar uma perigosa falsa sensação de segurança, tornando os motoristas menos vigilantes.

De acordo com o estudo da IIHS, 42% dos motoristas relataram sentir-se mais seguros ao usar o controle de cruzeiro adaptativo. Entretanto, apenas 28% dos entrevistados afirmaram entender plenamente as limitações desses sistemas. Mais alarmante ainda é que 20% dos motoristas acreditam, erroneamente, que podem tirar as mãos do volante enquanto utilizam o assistente de centralização de faixa, demonstrando uma confiança inadequada na tecnologia.

Esses números revelam um problema grave: embora as tecnologias semiautônomas prometam maior segurança, os motoristas frequentemente não entendem como essas ferramentas funcionam. Ao reduzir sua atenção na estrada, o motorista torna-se vulnerável a acidentes, especialmente em situações nas quais o sistema falha ao interpretar adequadamente o ambiente.

Um estudo da AAA Foundation for Traffic Safety corrobora essa preocupação. Ele mostrou que 25% dos motoristas que utilizam o controle de cruzeiro adaptativo estavam mais propensos a usar o celular durante a condução, o que aumenta significativamente o risco de acidentes. Além disso, a NHTSA (National Highway Traffic Safety Administration) estimou que 94% dos acidentes rodoviários nos EUA estão relacionados a erro humano. A introdução de sistemas semiautônomos pode aumentar a taxa de distração, e, consequentemente, a incidência de colisões.

Ao comparar sistemas semiautônomos com outras tecnologias de prevenção de acidentes, como a frenagem autônoma de emergência, fica claro que a eficácia dos sistemas ainda é limitada. Dados do HLDI revelam que veículos equipados com frenagem automática de emergência reduziram em 50% a incidência de colisões traseiras. No entanto, veículos com controle de cruzeiro adaptativo e assistente de centralização de faixa não apresentaram resultados comparáveis.

Em números, a IIHS estudou dados de sinistros de veículos de marcas como Nissan e BMW, e constatou que não houve uma redução significativa nas taxas de acidentes envolvendo carros equipados com tecnologias semiautônomas. De fato, alguns modelos de veículos com esses sistemas mostraram taxas de acidentes até 10% superiores aos de veículos sem esses recursos.

Esses dados sugerem que a implementação de sistemas semiautônomos ainda carece de refinamento e de uma maior conscientização por parte dos motoristas para que se tornem, de fato, eficazes em prevenir acidentes.

Um dos problemas mais críticos relacionados aos sistemas semiautônomos é o aumento da distração dos motoristas. Quando os motoristas acreditam que o carro está “dirigindo por eles”, tendem a se distrair mais, seja ajustando o painel, mexendo no celular ou conversando. Isso resulta em uma perda significativa do tempo de reação, o que pode ser fatal em situações de emergência.

O tempo médio de reação de um motorista a uma situação inesperada é de aproximadamente 1,5 a 2,5 segundos. Se um pedestre entrar na via ou outro veículo realizar uma manobra inesperada, essa fração de tempo é crucial. A 100 km/h, um veículo percorre cerca de 28 metros por segundo, o que significa que um motorista que demore 2 segundos para reagir terá percorrido 56 metros antes de começar a frear ou desviar. Nesse cenário, o sistema semiautônomo pode não reagir a tempo, colocando o motorista e pedestres em risco.

Segundo o European Transport Safety Council (ETSC), 25% dos acidentes fatais envolvem distração do motorista, e sistemas semiautônomos, ao gerar confiança excessiva, podem contribuir para o aumento desses números. Por exemplo, uso de celular ao volante, aumenta em quatro vezes a probabilidade de colisões, e a combinação desses hábitos com a confiança em sistemas automáticos pode ser devastadora.

 

Modelos de Veículos Semiautônomos no Brasil

O mercado brasileiro já conta com algumas opções de veículos que possuem tecnologias semiautônomas. Alguns dos principais modelos e suas tecnologias incluem:

1. Chevrolet Tracker: é um SUV compacto que se destaca por seu pacote de tecnologias de segurança ativa e assistência à condução.

  • Assistente de Permanência em Faixa (Lane Keeping Assist – LKA)
  • Controle de Cruzeiro Adaptativo (Adaptive Cruise Control – ACC)
  • Alerta de Colisão Frontal (Forward Collision Warning – FCW)
  • Frenagem Automática de Emergência (Automatic Emergency Braking – AEB)

2. Volkswagen T-Cross: é um dos SUVs mais vendidos no Brasil e vem equipado com uma série de tecnologias semiautônomas.

  • Controle de Cruzeiro Adaptativo (Adaptive Cruise Control – ACC)
  • Assistente de Permanência em Faixa (Lane Keeping Assist – LKA)
  • Assistente de Estacionamento Automático (Park Assist – PA)
  • Monitoramento de Ponto Cego (Blind Spot Monitoring – BSM)

3. Toyota Corolla: é um dos modelos mais vendidos no Brasil e traz o pacote Toyota Safety Sense, que inclui uma série de recursos semiautônomos avançados.

  • Controle de Cruzeiro Adaptativo (Adaptive Cruise Control – ACC)
  • Assistente de Permanência em Faixa (Lane Keeping Assist – LKA)
  • Frenagem Automática de Emergência (Automatic Emergency Braking – AEB)
  • Alerta de Mudança de Faixa (Lane Departure Warning – LDW)
  • Faróis Altos Automáticos (Automatic High Beams – AHB)

4. Honda HR-V: traz uma série de recursos avançados de assistência ao motorista.

  • Controle de Cruzeiro Adaptativo (Adaptive Cruise Control – ACC)
  • Frenagem Automática de Emergência (Automatic Emergency Braking – AEB)
  • Assistente de Permanência em Faixa (Lane Keeping Assist – LKA)
  • Monitoramento de Ponto Cego (Blind Spot Monitoring – BSM)
  • Reconhecimento de Sinais de Trânsito (Traffic Sign Recognition – TSR)

5. Nissan Kicks: é outro SUV que oferece tecnologias semiautônomas com foco na segurança e conveniência.

  • Controle de Cruzeiro Adaptativo (Adaptive Cruise Control – ACC)
  • Frenagem Automática de Emergência (Automatic Emergency Braking – AEB)
  • Controle Inteligente de Trajetória (Intelligent Trace Control – ITC)
  • Assistente de Estacionamento Automático (Park Assist – PA)
  • Monitoramento de Ponto Cego (Blind Spot Monitoring – BSM)

 

Desafios da Implementação dos Sistemas Semiautônomos no Brasil

No Brasil, a adoção de veículos semiautônomos enfrenta desafios ainda maiores. Marcos Casanova, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), explica que a falta de regulamentação específica para esses veículos no país gera incertezas quanto às responsabilidades em caso de falhas ou acidentes. Além disso, o Brasil carece de uma infraestrutura adequada para suportar plenamente esses sistemas.

De acordo com André Gessner, engenheiro automotivo, a falta de sinalização adequada, manutenção das vias e cobertura de internet nas rodovias brasileiras são obstáculos significativos. Veículos equipados com sensores e câmeras podem falhar na interpretação do ambiente em estradas mal sinalizadas, o que pode levar a acidentes graves.

O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) ainda não regulamentou o uso de sistemas semiautônomos no Brasil, deixando tanto motoristas quanto montadoras em um “limbo” legal. Enquanto isso, o número de veículos com esses sistemas cresce no país. Em 2023, cerca de 7% dos carros novos vendidos no Brasil já possuíam algum nível de automação, segundo dados da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores).

Apesar dos riscos associados à falsa sensação de segurança, os sistemas semiautônomos trazem benefícios reais, especialmente para reduzir o esforço em viagens longas ou auxiliar em manobras como estacionamentos e situações de tráfego intenso. Esses sistemas podem, sim, tornar a condução mais segura quando utilizados corretamente.

No entanto, André Gessner destaca que esses recursos devem ser vistos como auxiliares e não substitutos da atenção humana. A automação parcial não é capaz de lidar com todos os cenários, e a prontidão do motorista para intervir é uma responsabilidade que não pode ser delegada à tecnologia.

 

A Chave para o Uso Seguro de Semiautônomos

A conscientização dos motoristas sobre as limitações dos sistemas semiautônomos é crucial para evitar que a confiança excessiva se transforme em negligência. Hélder Araújo, diretor da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), destaca a importância de campanhas educativas que informem os motoristas sobre o uso correto desses sistemas. As montadoras também têm um papel fundamental na educação dos consumidores, fornecendo orientações claras e manuais detalhados.

Além disso, a regulamentação precisa ser mais rigorosa. Diretrizes claras sobre as responsabilidades do motorista e a obrigatoriedade de manter as mãos no volante, por exemplo, são essenciais para evitar que o uso indevido da tecnologia resulte em acidentes.

Em conclusão, os sistemas semiautônomos representam um avanço significativo na indústria automotiva, prometendo maior segurança e conforto para os motoristas. No entanto, esses sistemas ainda têm limitações que podem criar uma perigosa falsa sensação de segurança. Os motoristas precisam estar cientes de que a supervisão constante é indispensável, e que os sistemas automáticos, por mais avançados que sejam, não substituem o julgamento humano.

A combinação de conscientização, regulamentação adequada e melhorias na infraestrutura pode garantir que os sistemas semiautônomos sejam usados com segurança e eficiência, contribuindo para um futuro de mobilidade mais seguro e eficiente.

 

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